Abrilivre I Notícias Setor
“Nosso objetivo era chamar atenção do consumidor que o posto não é o vilão”
18/10/2021
por Jornal a Entrevista

Já imaginou o litro da gasolina sendo vendido ao preço de R$ 0,40? Esse foi o valor cobrado por um posto de combustíveis na cidade de São Paulo (SP). No país onde a média nacional ultrapassando os R$ 6,00, o paulistano enfrentou longas filas para poder abastecer o limite máximo de 10 litros, pagando R$ 4,00. A ação faz parte da campanha Combustível Transparente, realizada pela Associação Brasileira dos Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres (AbriLivre). O objetivo, segundo a associação, é conscientizar o consumidor de que o posto não é o principal responsável pelo aumento dos preços, e que os R$ 0,40 simboliza a margem média do lucro bruto dos postos, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O entrevistado de hoje é o diretor executivo da AbriLivre, Rodrigo Zingales.

Gasolina no valor de R$ 0,40 o litro é um sonho de todo brasileiro?

É um sonho impossível de ser realizado. No decorrer do ano e dos dias era impossível, mas com essa ação foi possível realizar um sonho (risos).

Por que vocês realizam essa iniciativa?

Essa ação ocorre graças a uma iniciativa da AbriLivre em conscientização aos consumidores. Temos que destacar primeiramente que os postos não são os violões pelo aumento no combustível. É muito comum o consumidor ir ao posto e questionar o frentista ou ao dono o porquê do aumento do combustível. O segundo objetivo era a gente mostrar para os consumidores que a parte bruta do posto é mínimo.

Por que a ação ocorre em apenas um posto de combustível e por que apenas a gasolina?

Na realidade foi o posto que se ofereceu para realizar a ação. Foram quatro mil litros e a escolha atual da gasolina foi porque a gasolina tem toda a discussão da política de preços. Temos toda a discussão da política de preços da Petrobras e da tributação. Escolhemos a gasolina por isso, mas poderia ser com o etanol, diesel.

Tem alguma probabilidade dessa ação ser nacional futuramente? Vocês trabalham para isso?

A ideia é lançar em outras cidades e em outros estados. Precisamos que as distribuidoras nos ajudem a vender esse combustível. O combustível é o maior custo do posto. Quando desenvolvemos a ação, entramos em contato com associados de outros estados para ver do interesse em nos patrocinar, mas não tivemos êxito naquele momento. Divulgamos essa ação em grupos de WhatsApp de revendedores de combustíveis, colocando à disposição pra outros postos que tenham interesse pra gente realizar uma ação dessas em outros estados.

O Dia Livre de Impostos, da Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem, a CDL Jovem, realiza uma ação parecida com a de vocês, porém mesmo sem o valor dos impostos, o litro chega a 3,70, por exemplo. Como que vocês chegaram ao valor de apenas R$ 0,40?

Então, na realidade esse valor de R$ 0,40 conseguimos êxito, pois está sendo o custo da média da gasolina no posto. Pegamos dados da ANP, de preço de compra e de venda, preço de compra e a gente viu que da média mês a mês gira em torno de 40% aplicados como preço médio, que é a diferença de compra e de venda médio, mas muitos postos chegam a ser mais baixos que 40 aplicados, justamente para chamar atenção. O objetivo aqui era chamar atenção do consumidor que o posto não é o vilão, enquanto ele está pagando R$ 5,70 (preço praticado em SP na realização dessa entrevista), menos de 10% desse valor fica com o posto. O estabelecimento acaba sendo prejudicado com esses valores altos do combustível, porque altos preços faz com que ocorra a queda da demanda. O que sustenta o posto não é o valor do combustível, mas sim o volume que vem nesse posto. A margem bruta dele multiplicada pelo volume de venda. Se o preço está muito alto, o volume cai e o posto muitas vezes acaba tendo prejuízo. Daí começa a se endividar e vai para o fundo do poço. A intenção não era chamar atenção para os tributos ou para os preços da Petrobras. O intuito é mostrar que o posto é tão prejudicado quanto os consumidores. Nós estamos lutando pra que haja uma redução nos preços dos combustíveis no Brasil. Ninguém vai ganhar com os preços altos. Melhor, talvez haja alguns agentes que estão ganhando com os preços altos e com essa política e com o nível de concentração no setor de distribuição.

O presidente Jair Bolsonaro diz que a culpa pelos atuais preços dos combustíveis não é dele. A Petrobras diz que a culpa não é dela. Os estados também dizem que a culpa não é deles. Agora foi a vez dos postos de gasolina dizerem o mesmo. Afinal, o alto valor do combustível que encontramos nas bombas hoje é culpa de quem?

Eu acho que não tem um culpado, mas sim uma sequência de culpados. A Petrobras tem sim uma culpa, quando ela decidiu fazer uma política de preços internacionais, no mercado internacional. Temos ainda os tributos, o ICMS, que é a forma de tributação do preço palco, onde os governos estaduais fazem a cada 15 dias uma apuração do preço médio para o consumidor e cobra aquela alíquota de 25, 28,29, 30,32 até 35, no caso do valor de venda, e já tem embutido nele sobre PIC/CONFINS. Olha quantos postos vendidos nos últimos anos. Olhe quantos postos pequenos que tiveram que fechar as portas. Os postos de pequenos e médios portes estão sendo vendidos para as grandes redes, que são financiadas pelas grandes distribuidoras. Isso está acontecendo no Brasil. Então, quem é o vilão de tudo isso? Eu diria que é uma série de fatores: a instabilidade econômica, o dólar aumentando e o real desvalorizando. Os postos não são os violões. Eles são os prejudicados. Queremos expandir para mostrar ao consumidor final tudo isso que falei. Chequem qual foi o lucro para a Petrobrás, quanto foi distribuído pelas bandeiras BR, Shell e Ipiranga. Vejam quanto os estados receberam com impostos. A partir daí, consegue-se entender quem está ganhando com esses preços altos.

Ao longo de setembro, os poderes executivo e legislativo têm discutido maneiras de amenizar as recentes altas no preço dos combustíveis. O senhor consegue ver uma luz no fim do túnel nesses encontros?

Se nada for feito, o Brasil corre risco de voltar a ser como era nos anos 90, com inflação alta, desemprego e recessão. O governo até tenta negociar algo com a Petrobras, mas ela sofre pressão dos acionistas. Mas a Petrobras foi construída com o dinheiro do povo. E quem está perdendo nisso tudo é o consumidor e os postos. Quem está ganhando deveria estar na cadeia.

Fonte: http://www.jornalaentrevista.com/2021/10/nosso-objetivo-era-chamar-atencao-do.html

Publicado em http://www.jornalaentrevista.com/2021/10/nosso-objetivo-era-chamar-atencao-do.html

Você também pode se interessar por…

Share This